Porque é que sentiste necessidade de começar a falar acerca deste tema nas tuas
redes sociais?
Em primeiro lugar, existe muita influência dos tipos de corpos no Tiktok. Que é, neste
caso, a plataforma onde estou mais presente. Porém, em certa parte, tem havido uma
dualidade de comportamentos face a certos tipos de corpos – ou seja, quando as pessoas
são muito rechonchudas recebem apoio e ao mesmo tempo imenso hate, e quando as
pessoas são mais magrinhas recebem muito “love” ou muita inveja.
A questão corporal tem sido um grande problema ultimamente. Parece que ninguém
consegue estar bem. Graças a isto, decidi começar a expressar-me mais quanto ao
Bodyshaming, porque acredito que não há necessidade de nos compararmos com os
outros, ou até mesmo mudarmos a maneira como somos. Temos de aceitar, acima de
tudo, a nossa essência.
Existem muitas mulheres e jovens que se sentem inseguranças com o seu corpo,
ora porque são mais gordinhas ou magrinhas, altas ou baixas. Por esta razão,
queria te perguntar o que é que fizeste, ou que pensamentos seguiste para acabar
com as inseguranças e ter uma aceitação pelo teu próprio corpo.
Eu não aceito tudo em mim, não sou de ferro. Eu tenho inseguranças em certas coisas
que não gosto, contudo recentemente eu aprendi a adaptar-me – “Aceita o que tens de
aceitar e muda o que tens a mudar” – ou seja, há certas coisas em mim que eu tenho
simplesmente de aceitar porque eu sou assim, e aprendi a gostar com o tempo mas,
aquilo que eu não consigo gostar porque sei que consigo melhorar se eu me esforçar
para isso, eu tento. E daí eu ter melhorado a minha questão da insegurança – sei que a
minha beleza é minha. Quero apenas melhorar a minha condição física por questões de
saúde. Tudo isto cria um equilíbrio na minha mente.
Na internet ninguém é 100% o que mostra. Todos nós metemo-nos em ângulos, formas,
encolhemos a barriga, esticamos o corpo, puxamos um bocadinho do Photoshop. Até a
própria Kim Kardashian no novo vídeo publicitário dela usou muita edição tanto que o
dedo dela ficou todo distorcido... Até mesmo as pessoas que fazem cirurgias plásticas e
que têm um padrão inalcançável, não conseguem estar a par do padrão criado.
Se pudesses mandar uma mensagem à sociedade em geral, o que é que dizias?
Temos que desconstruir os padrões corporais que são impostos atualmente. Existe uma
coisa que toda a gente ignora e força a ser aceite quando não é – nem toda a gente tem o
mesmo metabolismo. Nem toda a gente nasceu magro. Não é justo ouvir comentários
como – “faz exercício, faz desporto” – porque é que uma pessoa magra pode comer à
vontade, o que quer e continuar magra e eu tenho de me reter e de comer o que quero e
fazer o que quero porque tenho de ter um corpo igualmente magro. Não é justo. O ponto
importante é a saúde. Mas a sociedade não se esforça a compreender os mesmos tipos
de corpos, os diferentes tipos de metabolismo.
Falando um pouco sobre médicos de família. Se a minha médica de família me tivesse
dito há 10 anos – “o teu metabolismo é x e isso vai te fazer sempre engordar por mais
que te esforces” – eu teria um corpo completamente diferente neste preciso momento.
Contudo, nunca me foi explicado, porque não existe interesse na sociedade. Só existe
magro ou gordo. Não interessa o “porquê”, não interessa questões de saúde, somente és
magra ou gorda. Muitas pessoas não são gordas ou magras porque querem. O
metabolismo puxa para uma certa forma de corpo e isto tem de ser compreendido de
uma vez por todas para a pressão social acabar de uma vez.
Para terminar a entrevista, que conselhos é que darias às mulheres e jovens que
sofrem desta pressão social?
O meu primeiro conselho é fazer um exercício mental para perceberes que o problema
não está em ti. A indústria da moda também não ajuda – dificilmente consigo comprar
roupa do meu tamanho, existem as pessoas altas que não conseguem encontrar um par
de calças, pessoas muito magras que têm de comprar na zona de crianças... A sociedade
está a forçar-nos a pensar que está alguma coisa errada connosco. É mesmo necessário
todos fazermos um exercício mental para percebermos que somos manipulados pelo
mundo em que vivemos.
Dito isto, o primeiro passo é perceber todas estas questões e depois refletir e parar de
fazer pressão em cima de nós, mas, acima de tudo entender que não há nada de errado
em termos metabolismos diferentes. Somos todos diferentes, com corpos diferentes, são
todos bonitos a sua maneira e, acima de tudo, ter uma boa saúde e um estilo de vida
saudável. O corpo é apenas um adjacente.